quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

À PLANALTINA-DF, MINHA MENINA
(Vivaldo Bernardes)
Cheguei, vindo de longe, amargurado,
vi teu chão, e na mala me sentei.
Deixei tudo o que tinha, o lar amado.
e o teu céu era azul quando aportei.

Pouca coisa eu trouxera na bagagem:
alguns versos e o resto era saudade,
transbordando da mala da romagem,
induzindo-me quase à insanidade.

Conhecia-te de vista, poucos dias...
Procurei inteirar-me com minúcia,
teu trabalho e tuas horas mais tardias.

Concluindo, ó querida Planaltina,
indagando e sentido com argúcia,
elegi-te dos olhos a menina.

Planaltina-DF,27/05/2002
 O TEMPO
(Vivaldo Bernardes)
Sem saber o que és, eu já te sinto.
Não tens peso, mas pesas-me nos ombros;
não tens gosto, mas eu noto teu absinto,
nos meus dias de tristeza, horas de assombros.

Só me deste duas cores para a vida:
uma azul-mocidade outra escura.
A primeira, levaste de investida;
a segunda, já sabes quanto dura.

Tens nas mãos o destino do Universo.
És eterno, mas vives de segundos.
Discutir-te o teu tema é controverso.

Debater-te é simples despautério.
Continua governando os nossos mundos
e fico eu cá absorto no mistério.

Planaltina-DF,21/05/2002
BENGALA CULPADA
(Vivaldo Bernardes)

Eu não sei se é bem ou se é mal,
se o sofrer é maior ou menor,
estar lúcido e neste estado tal,
ou dormir para o mundo ao meu redor.

Lucidez, nesta mente um pouco eu tenho,
vou sentindo, sentindo com lamentos,
a uma queda, ao quarto eu logo venho,
lamentar e tomar medicamentos.

A  culpada da queda é a Bengala
que me traiu na rampa, bem descida,
e no tombo eu cheguei a perder a fala.

Ah,bengala! Eu lhe peço mais juízo
e atenção, que não fique distraída,
para que não me dê mais prejuízo.

Planaltina-DF,20/06/2002

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

RETALHOS DE SAUDADE
(Vivaldo Bernardes)
Os retalhos que ficaram da saudade
formam juntos toda a vida que levamos.
São minúcias, são momentos de bondade,
que ornaram nosso lar que levantamos.

Não me esqueço do assobio qu'eu expelia.
Combinamos e ficamos acertados:
sete silvos na chegada e quando ia,
sinal certo dos amores despertados.

E das rosas do jardim...ah, se me lembro!
eram limpas dos botões já ressequidos
e deixavas as viçosas pra novembro.

São detalhes e minúcias, sutilezas
que faziam os nossos tempos imbuídos
de franqueza, de humildade e de belezas.

Planaltina -DF,23/04/2002 
ÚLTIMO DESEJO
(Vivaldo Bernardes)
Desejos todos nós temos na mente.
Desejar é fanal da humanidade.
Desumano quem inda não os sente,
é querer,mas querer com sobriedade.

Quem não aspira à prosperidade
que o mundo lhe promete nesta lida,
já morto está, não sente mais a vida,
não vê nos bens qualquer desigualdade.

Assim estou. Não tenho pretensão.
Em assuntos tais hoje não me meto.
Mas toda regra tem sua exceção:

Mente sã, destra firme e vista boa
e dar à alma mais algum soneto,
eis meu anelo nobre e não à-toa.

Planaltina-DF,27/12/2011
SER POETA
(Vivaldo Bernardes)
Ser poeta é viver
num mundo de ilusão,
é querer escrever versos
no âmago do coração.

Ser poeta é sentir
o perfume do poema,
no presente e no porvir,
tê o instante de partir.

Ser poeta é sonhar
estar morando na Lua,
visitar o Sol com ela
e dormir nos raios dela.

Ser poeta é chorar
sem saber bem o porquê,
atê que um verso lhe dê
motivo pra se alegrar.

O poeta é um cego
que vê o seu ego
que se lhe espalma,
com os olhos da alma.

Planaltina -DF,27/12/2011

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

MOCIDADE
(Vivaldo Bernardes)
Que dor é esta que persiste assim
em mostrar-me as derrotas e vitórias,
soluços e delícias transitórias,
de um tempo que, vai longe, teve fim?

Que lembranças são estas que me trazem,
teimosas, quedas que tento esquecer,
fingindo que não me fazem sofrer,
pois no fundo do tempo é que jazem?

E os perfumes de dias inda meninos
que eu aspirava co' a alma cheia de hinos,
onde estarão, se as flores já murcharam?

Hoje, que já morreu a mocidade,
guardo as cinzas na urna da saudade
mais chorada que os olhos meus choraram.

Planaltina-DF,15/07/1997
INCERTEZAS E SAUDADE
(Vivaldo Bernardes)
Das dores que senti e ainda sinto,
vós sois as mais cruéis, mais doloridas,
Nas noites infindáveis vos pressinto,
tornando as horas minhas mal dormidas.

Incerto é o meu porvir indecifrável;
saudoso é o meu passado sem fronteiras;
meus dias são o presente imutável
e a vida o mundo velho sem porteiras.

Porém, mudar a vida eu não posso 
e tentar encurtá-la... nem pensar!
Cuidarei do destino que é nosso.

E quando eu vir, em pé, que não caí
e a soberana Morte despontar,
hei de bradar, bem alto,que venci!

Planaltina-DF,09/04/2002 
FRUSTRAÇÃO
(Vivaldo Bernardes)
Prometi e jurei em tom de lema,
já exausto de dores e lamentos.
não chorar e deixar como dilema
que levasse-me ao fim dos meus tormentos.

E tentei já em última instância,
esforçando todas fibras de minh'alma,
procurando por nova circustância
que trouxesse a mim sonhada calma.

Passageira, fugaz essa ilusão
foi depressa levada pelo vento
e voltando outra vez a frustração.

O desejo que ontem persegui,
hoje ao chão, foi em vão o meu intento.
Eu jurei, mas cumprir não consegui.

Planaltina-DF,03/09/2002



A VIDA E OS MEUS OLHOS
(Vivaldo Bernardes)


A vida não é mais nem menos que um mar
coalhado de ferozes tubarões famintos
escondidos nos mais profundos labirintos
da alma que se vê confusa a derramar

em lágrimas profusas, vulcões extintos
pela Razão, mas ativos no coração
que transmite aos olhos sua imensa emoção,
nem sempre a mesma buscada pelos instintos.

Quanto a mim, fico pensando com meus botões:
ou choro por ver o que a vida  me trouxe
ou morro por não ver o qu'eu quis qu'ela fosse.

Na vida as dores me chegam aos borbotões!
Eu a vejo como me visse em alto mar,
lutando com as ondas, quase a me afogar!

Porém, conforta-me a última certeza
de ver as belezas do Além nas  profundezas
quando os olhos não verão sequer meu caixão.

Planaltina-DF, 22/12/2011

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

VIDAS VIVIDAS
(Vivaldo Bernardes)
Minhas vidas são mesmo muito estranhas:
quando penso que tudo está acabado
pela dor que me fere as entranhas,
tudo muda e de novo é começado.

E "as vidas" eu trato no plural,
pois são duas: uma azul, outra é roxa,
divididas por dor do funeral
e a Querida deixou-me a vida chocha.

A primeira, festiva e mui risonha;
a segunda é oca e tristonha
e por isso os meus versos são assim.

Já que Ela não volta mais aos anos,
e eu presumo que isto é dos humanos,
outro odor feminil que venha a mim.

Planaltina-DF,15/07/2002

RESTOS...(da vida)
(Vivaldo Bernardes)

Extratando de mim o que sobrou,
sopesando o restante persistente.
verifico que a dor me machucou
e a saudade na alma é resistente.

Os lampejos de humor que eu sustento,
são fugazes, velozes, fugitivos,
só fingidos, levados pelo vento,
e não chegam sequer ser lenitivos.

No andar a bengala é instrumento,
ao dormir tomo doses bem soníferas.
Recordar é rotina e sofrimento.

São os restos,são cinzas derradeiras
do vulcão, são as lavas caloríferas
que me queimam de dores empreiteiras.

Planaltina-DF,19/06/2002

COROAS POÉTICAS


Entende-se por coroa poética – ou coroa de sonetos – a sequência de quinze (15) sonetos numerados de I a XV em que esse último é elaborado com versos extraídos de cada um dos quatorze anteriores.
Não digo que essa espécie literária é de fácil elaboração, uma vez que ela exige extrema atenção especialmente na indispensável afinidade do que dizem os versos com o assunto desenvolvido na obra.
Para facilitar o entendimento dos meandros da coroa, basta verificar que o verso em negrito de cada um dos 14 sonetos, vai compor o XV.
A minha intenção ao publicar MINHA LINDA JARDINEIRA  e outras coroas não é outra senão a de difundir sua arte e sua beleza, aliás, pouco conhecidas nas rodas da poesia.
                   
Vivaldo Bernardes


MINHA LINDA JARDINEIRA
(Vivaldo Bernardes)
I
Na chama deste amor que em meu ser arde,
queimei meu coração em grau profundo,
sofrendo na quietude e sem alarde,
Falando deste amor, sou bem fecundo.

Chamei e te implorei nos versos meus
em vão, pois tu estavas distraída,
de longe me acenando um breve adeus,
revolvendo no fundo esta ferida.

Colhias do jardim pleno de odores
petúnias e jasmins e outras flores
e delas eras tu a mais formosa.

Falando  dos meus versos que te dei,
por eles, acanhado,perguntei
se já os tinhas lido,carinhosa.




II
Busquei falar-te mais dos versos meus
pedindo que o amor a mim resguarde
e possa eu dizer dos dotes teus
se deles não disser,serei covarde.

Cabelos amarrados para trás,
lembrando idos anos de mocinha,
é hábito constante que te faz
parecer inda mais engraçadinha.

Os olhos que te ornam reluzentes,
atraem-me qual fossem dois presentes
de outro mundo bem mais evoluído.

Na boca guardas dentes de marfim,
teu hálito o odor tem de alecrim
e lábios que me deixam aturdido.

III

Prossigo assim, e que não seja tarde,
cantando predicados que possuis,
que o tempo seja amigo e que me aguarde
cantar os outros dons em que te incluis.

És doce, pois meiguice não te falta,
e pura, que a pureza é virtude;
feliz quem tem seu nome em voz mui alta
no coração de tua angelitude.

Ao ver-te no jardim colhendo flores
evito provocar-te dissabores
e fico extasiado ao te ver.

Um dia, recebi de tua mão
um lírio muito branco mais o perdão
por haver perturbado o teu lazer.
IV

Expondo com certeza os dotes teus
embora já os tenhas bem descritos,
nos versos, eu imploro ao próprio Deus
que guardes com amor os meus escritos.

Na urna da saudade vais retê-los,
enquanto os anos passam apressados
e, quando der vontade de relê-los,
retira-os dentre os teus gentis guardados.

E tu, que desta Terra não és fruto,
bem sabes que o amor de que desfruto
eterno é enquanto nós vivermos.

O lírio muito branco que me deste,
reflete bem o teu amor celeste
e viverá enquanto não morrermos.
V

Depois de ter escrito o que escrevi,
desejo enaltecer o teu amor.
Afeto assim na vida nunca vi;
nas noites me acalenta o teu calor.

Falando bem baixinho ao pé do ouvido
prometes de mim nunca te olvidares
e eu ouço tudo, quieto e comovido,
do teu falar nas noites estelares.

Dormindo, deves ser anjo do Céu
coberta por apenas tênue véu,
a imitar raras telas dos artistas.

São estas fantasias que hoje faço,
lançando pensamentos ao espaço,
fazendo como pensam alquimistas.


VI

Nos  pobres versos meus,digo às dezenas
todos os predicados que enobrecem
a ti, que das estrelas bem me acenas,
a quem cujos exemplos me enriquecem.

Exemplos de viver no dia-a-dia
os tenho,e só bem podem me causar,
mas peço-te amor pleno de euforia,
a amar-me muito enquanto eu respirar.

Não tenho outra exigência a te fazer
de vez que já possuo meu bem-querer
e não desejo ser anacoreta.

Pedir-te mais seria um exagero:
o amor deve ter sempre o seu tempero
 e ser humilde como a violeta.
VII


Que nosso amor é puro, eu percebi,
ao ver nos olhos teus tanta doçura
e no primeiro encontro eu me imbuí
de teu ar feminil e de ternura.

Da mente não me sais: és companheira;
se durmo,o meu sonhar é só contigo,
que vens, mui carinhosa e  sorrateira,
falar-me e ouvir tudo o qu’eu digo.

As flores que me trazes, perfumosas
são todas as mais belas entre as rosas
colhidas no jardim que tu cultivas.

 Mas digo com acerto e precisão:
das flores que eu vejo inda em botão,
comparas-te às bonitas sempre –vivas.

VIII

No teu olhar furtivo entre as dracenas,
a mim pareces tão plena do amor
que nasce de razões sutis e amenas
tal qual a flor que se abre ao sol-se-pôr.

Tu és a jardineira ideal,
bonina que resplende ao sol poente;
amar-te será sempre o meu fanal,
banhando-me no teu amor ardente.

Mas, como “não há bem que sempre dure”,
temo que teu amor pouco me ature,
cumprindo-se o ditado popular.

Anima-me o refrão,quando esclarece,
e isso muito certo me parece,
que mal algum não há de se acabar.
IX

Não quero que  o provérbio esteja certo,
dizendo”não há bem que sempre dure”
porque de mim estás muito bem perto
e peço a Deus infindo o bem perdure.

Se achas que o refrão diz a verdade
pensa logo esquecê-lo sem tardança
usando de tua hábil acuidade
pois nele não há verossimilhança.

O bem como o que eu tenho é imortal,
e próprio não da terra mas do astral
e é uma exceção do tal adágio.

Quem diz que não há bem que sempre dure
é infeliz no amor, mesmo que jure,
e falta à verdade no presságio.
X

E grito que me ouçam bem de perto
ao sol,à lua e a todos as estrelas
das quais o céu esteja encoberto
e a todos com bons olhos possam vê-las:

-Amor assim é bem que sempre dura
e esplende até o todo infinito.
é amor que o provérbio não segura
conforme explano cá no meu escrito.

Falar de amor contigo não hesito,
Embora parecer-me esquisito,
Pois  és o próprio amor feito mulher.

Se  és o grande amor que me consola,
eu  peço, inda que seja por esmola,
mil beijos ou somente um sequer.

XI

Que nosso amor não é amor qualquer,
tu sabes e também tenho ciência,
mas quero prova deste amor mulher
se for de tua toda aquiescência.

Assim, para provares o que peço,
será bastante um beijo caloroso
que firme no teu céu o meu ingresso,
e só assim serei vitorioso.

Penúltimo será sempre o teu ósculo,
trazendo entre as mãos mimoso flósculo,
e o último que nunca me aconteça.

Prefiro seja hoje o teu sinal,
no canto do jardim no roseiral,
à tardinha bem antes que anoiteça.

XII

Dizendo “não há bem que sempre dure”,
 o provérbio procura confundir
o nosso amor com um que não perdure,
fechando o coração em vez de abrir.

Mas nós que com a vida temos tino,
sabendo separar o que é certo,
podemos dizer isso a um menino
ainda do sublime amor incerto.

O tempo nos dirá com madureza
do amor que nos surgiu qual fortaleza,
seguindo assim até ao infinito.

E, quando nos livrarmos desta esfera
veremos que o amor não é quimera
e a esta Terra só não é restrito.
XIII

Convence-me de quanto eu o perjure
o exemplo que guardamos entre nós
e o fogo que a ambos nos combure
vivendo os dois tal fossem um a sós.

Falar de amor é fácil a quem sente
a sua força estranha e singular,
soprando forte a chama comburente,
sabendo por inteiro o verbo amar.

O afeto não se prende à sã razão
ouvindo por primeiro o coração
ditando-lhe no peito o que fazer.

Seguindo o exagerado coração,
desvia-se o amor para a paixão,
fugindo do que o bem pode trazer.
XIV

E nele acreditar é quem quiser,
o nosso amor é certo e insolúvel
haja adágios contrários que houver,
não mudará pois é indissolúvel.

É certo haver afetos passageiros
sem resistir por tempo duradouro,
amores sensuais e mui rasteiros,
cobertos ao nascer de mau agouro.

No fim de ter escrito sobre o amor,
espero leias tudo com ardor.
e aceites o pedido que te fiz.

Se leres com carinho e atenção,
verás qu’ eu não conflito coa razão
e amor inacabável sempre quis.

XV

Na chama deste amor que em meu ser arde,
busquei falar-te mais dos versos meus,
prossigo assim, que não seja tarde,
expondo com certeza os dotes teus.

Depois de ter escrito o que escrevi,
nos pobres versos meus,digo às dezenas
que nosso amor é puro, eu percebi
no teu olhar furtivo entre as dracenas.

Não quero que o provérbio esteja certo,
e grito que me ouçam bem de perto
que nosso amor não é amor qualquer.

Dizendo “não há bem que sempre dure”,
convence-me de quanto eu perjure
e nele acreditar é quem quiser.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

NUMA ESQUINA
(Vivaldo Bernardes)
Numa esquina da vida encontrei-te,Querida.
Estavas sozinha e sozinho eu estava!
Saimos nós dois pela estrada florida.
Quando falavas, calado eu ficava.

Ao olhar os teus castos lábios de carmesim
pensei: quando os meus seriam por eles manchados?
Mas, contive-me e não cedi ao pecado
de ultrajar os teus lábios de querubim.

O tempo mudou a cor dos nossos cabelos,
criamos dois filhos com extremos desvelos
que foram educados à nossa maneira.

E agora estou sozinho na outra esquina
desta batalha, desta briga de esgrima
tentando tapar o vento com a peneira.
A VERDADE NUA E CRUA 
(Vivaldo Bernardes)


A imbecilidade da raça humana
responde pelas calamidades morais 
quando a honra se vende ao preço de banana
e se guarda na bolsa dos marsupiais.

Das altas conferências internacionais,
da oratória inflamada dos ilustres
e reconhecidos líderes mundiais,
com o que resulta não há quem não se fruste.

Quanto aos que ainda usam o solidéu,
não se envergonham do seu antigo traje,
quando de camisola se entrava no céu 
hoje aberto a quem  a honra não ultraje.

Nesse intercâmbio do "toma-lá-dá-cá",
dessa devoção ao poder do deus Cifrão,
salve-se quem puder desse indomável cão,
senhor absoluto do que lhe vem de  lá.

Mas o que fazer? se o próprio Iscariotes
vendeu Jesus por apenas trinta dinheiros
chamados hoje por nós de trinta pacotes,
única diferença dos atuais doleiros.

Enquanto isso acontece, a verdade nua e crua 
continua entibiando outros corações
que não se vendem às perigosas paixões
ocultas nas esquinas da Vida, na rua.






segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

QUEM DIRIA!
(Vivaldo Bernardes)

Durante oito anos sonhei viver no céu,
pertinho dos anjos, conhecendo o amor,
crescendo em nós recíproca confiança
julgada por mim sincera e imperecível

Nossas vidas eram um jardim aprazível
e,nunca se apagarão da minha lembrança 
os dias em que recolhias dele uma flor
e com um beijo ma davas como troféu.

Mas, quem diria! O destino me enganou!
e o sopro do Tempo minha vida mudou
naquela noite em que seria melhor morrer.

Ao ver que tudo que foi nosso desabou 
o meu coração triste se entibiou
e quis parar só para não me ver sofrer.

Planaltina-DF,17/12/2011

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A VIDA VOA
(Vivaldo Bernardes)


Vês! Nem eu resisti às calculadas
palavras da tua última mentira.
Somente a ingratidão nela eu ouvira
da tua boca já antes maculada

por impropérios vis e ardilosos,
próprios do caráter interesseiro
que nutrias por assuntos financeiros
saídos dos meus bolsos caridosos

És a própria mentira em pessoa.
Tua grave peta secou a lagoa
onde pescavas os polpudos peixes

A culpa é tua, por isso não te queixes.
Curte a verdade por mais que te doa.
Vive teus gostos , que a vida voa...!
VIDA MINHA
(Vivaldo Bernardes)

Como a água de fonte cristalina,
insípida, inodora e incolor,
minha vida, sem nada que a defina,
não tem cor, não tem cheiro nem sabor.

Entretanto, pareço exagerar,
pois me restam ainda os versos meus,
e só eles me levam a te amar;
e só eles sustentam os dias teus.

Vida minha! Sem eles morrerei;
e com eles, o eterno viverei,
té que tu te extingas de uma vez.

Minha vida! Eu te quero como és,
firmando-me em ti com mãos e pés,
enquanto tu me deres lucidez.


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

PROCURA-TE
(Vivaldo Bernardes)
Procura-te e, depressa, vais te achar
nestes versos singelos que a ti faço,
recheados da ânsia de te amar
apertados por nosso longo abraço.

O espelho que mostra a tua imagem,
não reflete os desejos que possuis,
mas os trazes, bem claros,na voragem
atrevida dos teus olhos azuis.

Tu me queres,escandalosamente,
e te tornas até irreverente,
em momentos, quiçá, inesperados.

Procura-te, em tudo o que foi dito,
e verás teu retrato bem descrito
nestes versos tão curtos e acabados.


MÃE
(Vivaldo Bernardes)

És a luz no caminho, o alimento quente
e o agasalho na noite incerta de inverno;
és bússola no mar; és o verbo prudente.
no universo inteiro,és amor puro e terno.

Quando tudo parece o caos, já sem suporte,
no dia do infortúnio e do barco à deriva,
és o farol do porto e a luz que incentiva
a certeza da rota, a direção do norte.

No teu dia consagrado,os teus filhos e filhas
beijar-te-ão as mãos que  os levaram às  trilhas
da fé raciocinada e da beneficência.

E o filho que perdeu os teus conselhos sábios,
a suave reprimenda e o riso dos teus lábios,
não pode conformar-se e chora a tua ausênsia.



quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

À POESIA
(Vivaldo Bernardes)

Atolado no lodo desta vida,
conhecendo desgostos e tormentos,
afundava-me e não via a subida,
vivendo de angústia a abatimento.

Apelei-te em última instância:
"-Vem, socorre-me neste imenso mar.."
mas teus versos, movidos pela ânsia,
apunhalam-me e fazem-me chorar.

O perdão meu, terás pela rudez
de alguns versos, mas, puxa-me da lama!
Não me esqueças no estado de mudez

Atender-me eu te peço:continua
o papel que te cabe no meu drama,
meditando a palavra que o atenua.
FLORES, CORES E ODORES
(Vivaldo Bernades)


O jardim da nossa casa era assim:
os canteiros de tamanhos variados,
e, suspensos, muitos vasos de xaxim
enfeitavam os olhares deslumbrados.

E no chão, sempre florido e odoroso,
eram rosas e violetas pequeninas,
que tratavas com sorriso carinhoso,
com o zelo de quem cuida de meninas.

Entre as rosas preferias as amarelas,
que levaste junto a ti quando partiste
e ficaram outras, tristes, no jardim.

Dentre as flores eu não sei quais as mais belas.
Não as vejo desde o dia em que seguiste..
O jardim da nossa casa era assim...

UM CERTO "PAPO" -II
(Vivaldo Bernardes)

Se meu nome estiver inda escrito,
se em teus olhos escrito está meu nome,
de tua boca quero-o alto e bem dito,
não só ele, também o sobrenome.

Acho isto, questão de garantia...
Segurança de que trata o Destino.
Só "Josés ", não calculas a quantia,
que são vistos do negro ao albino.

Mas não quero apenas os teus olhos:
Eu desejo, com toda devoção,
que me tires do fundo dos abrolhos

que me ferem, tamanha é a saudade,
e me cuides também do coração,
afastando a terrível ansiedade.
UM CERTO PAPO
(Vivaldo Bernardes)

Certo dia, num dos "papos" agradáveis
que nós tinhamos, nós e apenas nós,
tratando assuntos livres e saudáveis,
nós falamos dos contras e dos prós.

Num momento de "papos"dilatados,
olhaste-me assim, jeito esquisito
e eu notei, nos teus olhos demorados,
que meu nome estava lá escrito.

Com cuidado e esmero, perguntei
se podia contar com o que eu vi.
Respondeste: " -O teu nome eu apaguei."

Tempo passa, liguei e quis saber
se voltaram as letras que eu li:
" - Voltaram sim, tornei a escrever..."


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

OLHARES PERSPICAZES
(Vivaldo Bernardes)
Teus olhares espertos, perspicazes
vir só podem dos olhos de onde vêm.
Se demoram mais tempo, são capazes
de cegar-me da luz qu'eles contêm.

São esquivos, às vezes alternados:
Entre um, entre outro, um sorriso,
quando mostras os dentes fileirados
como jóias ou pedras de granizo.

São esquivos, já disse noutra estrofe.
São ligeiros.Completo:  são furtivos.
Eles deixam humanos mortos-vivos.

Nesta Terra, não há quem deles mofe.
Nem  no céu eu verei outros iguais!
Nunca vi nesta vida olhares tais!
LIVRO VELHO
(Vivaldo Bernardes)

O livro que revejo, velho e gasto,
cansado de passar de mão em mão,
e às traças e aos cupins servir de pasto,
deu-me na vida a primeira lição.

Nada te dei por tudo o que me deste,
velho amigo, já roto e amarelado.
Fui-te ingrato,por mim tudo fizeste
 e eu te esqueci, na lutas do passado.

Hoje, também roído de saudade,
virando estas páginas queridas,
recomponho-te, livre dos insetos.

E,como outrora, pleno de verdade,
ensinarás a vida a outras vidas,
darás lição, agora aos meus netos.




DE AMIGO A AMIGO
(Vivaldo Bernardes)
Ao poeta -amigo Joésio Menezes
O soneto que a mim tu dedicaste,
"Poeta Peregrino"é o seu nome,
comoveu-me e ao choro me levaste,
pois de coisas assim eu tenho fome.

Amizades tais! Como me confortam!
As palavras usadas com carinho,
são palavras de amigo que me exortam
à certeza do escolhido ninho.

O poeta precisa do poeta
que lhe entenda a ânsia inesgotável
de atingir, afinal, a sua meta.

E tu és esse amigo a me indicar
que a amizade ainda é perdurável,
e no fundo da alma vais ficar.
UBERABA - QUERIDA
(Vivaldo Bernardes)
Hoje faz quatro meses que parti,
abraçando e beijando o meu torrão.
Dor igual ou pior eu só senti
ao deixar minha Amada no teu chão.

Abraçar os amigos, despedidas,
eu não fiz, pois segui inopinado,
mas deixei, nas tuas ruas e avenidas,
a minh'alma e o meu peito amargurado.

Uberaba,de ti tenho ciúmes;
dos teus prédios, tuas casas de ladrilhos;
da tua gente, teus usos e costumes.

Nas lonjuras, teu todo a mim pertence,
e eu me orgulho de ser um dos teus filhos,
e digo alto: "Eu sou uberabense".

Planaltina-DF,08/06/2002


VELHOS MUROS DE PEDRA
(Vivaldo Bernardes)
Muros velhos de grandes pedras nuas,
onde os calangos moram, quentam sol,
olham e cumprimentam o arrebol
e fogem dos guris sujos das ruas!

Ah, Muros seculares, silenciosos!
Sois do progresso a antítese perfeita,
a quietude,a mudez que me deleita
e a lembrança de anos venturosos!

Serpenteais por chácaras antigas,
despertando as saudades mais amigas,
das intrigas e queixas que ouvistes.

E na eterna e profunda letargia,
conservais minha doce nostalgia,
entre as indiferentes pedras tristes.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

AS CORES DO TEMPO
(Vivaldo Bernardes)



Daqueles nossos tempos de cabelos pretos,
do nosso céu azul, daquele verde mar,
dos felizes dias coloridos de alegrias,
restaram apenas ralos cabelos brancos

e este pálido poema de dois quartetos,
apenas dois, em que deixo derramar
a saudade das nossas azuis fantasias 
transformadas, hoje, em escuros barrancos.

Planaltina-DF,05/12/11
A COSTELA E A MULHER
(Vivaldo Bernardes)


Desde os meus dezessete anos quando me vi homem,
contesto a imaginosa criação de Eva,
história ingênua quanto a do lobisomem,
retórica fútil que a nada nos leva.

Dizer que a mulher surgiu duma costela
é menosprezar o que há de mais divino,
é ver a obra-prima de Deus qual balela,
é desconhecer o encanto feminino.

Por estas e por outras eu fico pensando:
o que seriam meus sonetos sem o perfume
suave e entorpecente da palavra mulher.

Pelo sim ou pelo não eu vivo sonhando
com o que falta a Adão,como um vagalume
famélico pela costela que lhe vier.

Planaltina-DF,03/12/11




quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

DA JANELA
(Vivaldo Bernardes)
Eras só pela rua já deserta.
Fundos sulcos os teus pés te ofendiam.
Da janela,que estava entreaberta,
via-te linda que meus olhos podiam.

Ah, se me lembro! como hoje fosse!
Tu olhaste para trás e me sorriste
e eu te dei um sorriso, o mais doce,
leve aceno de mão me dirigiste.

Tempo passa,faz isso sessent'anos.
Pela vida fomos de braços dados,
com alegrias e muitos desenganos.

Já te foste ao sulco mais profundo.
Desprenderam-se os laços bem atados.
Apagou-se a chama do meu mundo!

Planaltina-DF,26/09/2002


 
ESPERANÇA
(Vivaldo Bernardes)
O que sinto no peito aqui guardado.
é o último trunfo com que conto
com carinho e amor mui bem velado,
na esperança de ver-te me apronto.

Dos tormentos de estar longe de ti,
só me resta agora a esperança
de te ver como um dia já te vi:
como eras e plena de pujança.

Só Deus sabe o tempo que inda nos resta,
pra de novo abraçar-nos como outrora,
esperando com ânsia a grande festa.

E enquanto esse dia não chegar,
não soar o relógio a justa hora,
só nos fica o infindo esperar.

Planaltina-DF,07/10/2002