terça-feira, 30 de agosto de 2011

O EDIFÍCIO DA VIDA
(Vivaldo Bernardes)

Nós nascemos, por natureza, construtores.
Como tal, é-nos primordial construir
os altos pavimentos do colosso Vida
erigido na nossa visão virtual,


formidável obra, do berço ao funeral,
do construtor que a tem como concluída,
forte e invulnerável aos riscos de ruir,
erguida no Tradicional “Centro d’Amores”.

Suas paredes internas não guardam segredo;
os corredores de cor branca e transparente
refletem o trânsito interior, sem medo

do que dirão os fiscais da folha-corrida
do construtor intimorato, valente
morador do Alto-Edifício-da Vida.

domingo, 28 de agosto de 2011

CULPA
(Vivaldo Bernades)

- à Maria -

Culpado eu me confesso, e quero ter-te assim,
de modo extravagante e quase escandaloso,
banindo preconceito... amor de botequim,
ou de qualquer lugar... ardor pecaminoso.

Assumo, ao me culpar, metade - e só metade –
do que nos sucedeu, pois éramos um par,
sentado, descuidado, a beber em um bar,
sedento de prazer, culpado em igualdade.

Depois... muito depois, co’a mente conturbada,
mostraste-me teu corpo e ele todo eu vi,
soberbo e sedutor qual a flora eriçada.

Num átimo abracei teu corpo, alucinado,
deixando-me tomar por alto frenesi,
e tudo se acabou num ato tresloucado.


Planaltina-DF, março/2005

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

INCERTEZA
(Vivaldo Bernardes)

Incerta e sem um norte que a oriente
caminha esta minh’alma solitária,
habitando este corpo decadente
na reta já final da funerária.

Meus versos bem definem a incerteza
e tingem de escuro o meu porvir,
guiados pela lei da natureza
e inútil é querer deles fugir.

Entanto o desejo permanece
e mostro-lhe o meu corpo envelhecido,
mas ele, com vigor, não esmorece.

Acato ser o amor imorredouro
na luta entre a mente e o desejo,
e voto no segundo sem desdouro.

E hei de assim viver do infinito
dando graças por ter este almejo
e de amor mil palavras ter escrito.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

AS FLORES QUE PLANTEI
(Vivaldo Bernardes)

Da flores que plantei, duas secaram e outras
viçaram no cantinho deste peito meu,
onde estão, para sempre, gravados seus nomes,
escritos no vermelho do meu próprio sangue.

Se eu fosse escolher entre umas e outras,
ficaria indeciso este coração meu
perante tão queridos e saudosos nomes
embora estejam escritos com o mesmo sangue.

Foram tantas as Marias que me esqueço doutras!
Foram tantas Julietas para um só Romeu,
e dentre elas a nobre Orquídea de renome,
mostrando que azul era a cor do seu sangue.

Planaltina-DF, 01/05/2011

sábado, 20 de agosto de 2011

RETRATO DE UM CORPO
(Vivaldo Bernardes)

A minh’ânsia de ter-te me consome.
Já escrevi, te pedi e implorei.
Tudo aceitas, e dizes o meu nome,
mas sem ti, eu prometo, morrerei.

Teu sorriso é largo e dentes lindos;
são castanhos os teus olhos de esplendor;
o teu busto, duas jóias de corindos,
e que vibram na hora do amor.

Que direi do teu todo, de teu corpo
se não há mais palavras que o definam,
e me deixa o meu corpo todo torpo?

Teu retrato que faço é imperfeito,
mas eu sei que os dizeres se te afinam,
pois teu corpo, acho eu, mais que perfeito.

Planaltina-DF, março/2005

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

DA JANELA
(Vivaldo Bernardes)

Eras só pela rua já deserta,
fundos sulcos os teus pés te ofendiam.
Da janela, que estava entreaberta,
via-te linda que meus olhos podiam.

Ah, se me lembro! como hoje fosse!
Tu olhaste para trás e me sorriste
e eu te dei um sorriso, o mais doce,
leve aceno de mão me dirigiste.

Tempo passa, faz isso sessent’anos.
Pela vida fomos de braços dados,
com alegrias e muitos desenganos.

Já te foste ao sulco mais profundo.
Desprenderam-se os laços bem atados.
Apagou-se a chama do meu mundo.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

OLHARES PERSPICAZES
(Vivaldo Bernardes)
Teus olhares espertos, perspicazes,
vir só podem dos olhos de onde vêm.
Se demoram mais tempo, são capazes
de cegar-me da luz qu’eles contêm.

São esquivos, às vezes alternados:
Entre um, entre outro, um sorriso,
quando mostras os dentes fileirados
como jóias ou pedras de granizo.

São esquivos, já disse noutra estrofe.
São ligeiros. Completos: são furtivos.
Eles deixam humanos mortos-vivos.

Nesta Terra, não há quem deles mofe.
Nem no céu eu verei outros iguais!
Nunca vi nesta vida olhares tais!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O PODER DA PALAVRA
(Vivaldo Bernardes)

A fala são palavras constituídas de som articulado de significante e significado e é atributo exclusivo do homo sapiens.
Habituados a elas desde tenra idade, usamo-la natural e espontaneamente sem nem de leve atentarmos para a grandiosidade contida num simples impulso vocabular.
Desde o “Fiat lux” – Faça-se a luz – e a luz se fez, ao balbuciar da criança; desde as eloquentes e inflamadas catilinárias de Cícero que marcaram época no cenário político do império romano; desde o “Quo vades?” que converteu Saulo ao cristianismo, à pureza dos conselhos maternos, a palavra constroi a vida.
Tão poderosa é a palavra, quão importante é sabermos usá-la, medindo-a antes que ela nos saia da boca, pois que o homem é a palavra.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

MINHA TERRA
(Vivaldo Bernardes)

Minha terra é a mesma tua,
são as mesmas as palmeiras
onde canta a cacatua
ao fragor das cachoeiras.

E aquele sabiá
de que falas nos teus versos,
igual a ele não há,
mas há outros mui diversos.

É assim a minha terra
e eu dela não me queixo,
minha vida aqui se encerra
e nunca mais eu a deixo.

Queira Deus qu’eu morra aqui
no Planalto do Brasil,
no cerrado de pequi,
sob o céu azul de abril.

Planaltina-DF, 10/08/2011

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

FLORES, CORES E ODORES
(Vivaldo Bernardes)
O jardim da nossa casa era assim:
os canteiros de tamanhos variados,
e, suspensos, muitos vasos de xaxim
enfeitavam os olhares deslumbrados.

E no chão, sempre florido e odoroso,
eram rosas e violetas pequeninas,
que tratavas com sorriso carinhoso,
com o zelo de quem cuida de meninas.

Entre as rosas preferias as amarelas,
que levaste junto a ti quando partiste
e ficaram outras, tristes, no jardim.

Dentre as flores eu não sei quais as mais belas.
Não as vejo desde o dia em que seguiste...
O jardim da nossa casa era assim...

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

ENCOMENDA
(Vivaldo Bernardes)

Pedes-me que eu escreva um soneto
falando teus defeitos e virtudes,
que dizes caber tudo num folheto:
teu andar, teu olhar e atitudes.

Os males e defeitos que incluis
eu não citarei, pois não os possuis,
mas vejo os teus olhos reluzentes,
e gosto dos teus beijos muito quentes.

Outros dotes que eu vejo na tu’Alma:
amor sincero que te enche o peito
e das virtudes toda é a palma.

Acusas-me até com reprimenda
por não ter dito mais a teu respeito.
O papel é menor que a encomenda.

domingo, 7 de agosto de 2011

MULHER
(Vivaldo Bernardes)

Conheço-te, Mulher, conheço-te inteira,
da tua altiva tez aos delicados pés.
Singrando o mar da vida, és a timoneira.
Por mais palavras ouço, escondes-me quem és.

Escondes-me quem és, por mais palavras digas.
Só podes ser divina, a te esconderes tanto,
pairando em longes sóis, em que feliz te abrigas,
pois és igual em tudo, ao que há de mais santo.

Nas horas mais difíceis, horas de ansiedade,
o Homem te procura, à busca da verdade
que trazes junto a ti, na fala esclarecida.

Por fim, não sei dizer de onde tu vieste,
mas sei, daqui não és, e sim do azul celeste,
da mais brilhante estrela, e aqui estás perdida.

Planaltina-DF, abril/2005

sábado, 6 de agosto de 2011

MULHER II
(Vivaldo Bernardes)

Tu és pura e nobre, origem do homem;
da Terra és rainha, do lar segurança;
aos entes do mundo não tens semelhança;
carinhos tens muitos que não se consomem.

És luz que se acende no escuro das noites;
farol que indica o roteiro a seguir;
bonança que trazes no rosto a sorrir
depois da borrasca, no fim dos açoites.

És fonte segura d´amor desvelado;
cansaço não queixas ou dores quaisquer,
só tendo por mira o amor acendrado.

O amor genuíno que trazes no peito
é próprio de ti, pois te chamas mulher,
por mais dores sintas não mudas teu jeito.

Planaltina-DF, 02/07/2004

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A ALGUÉM
(Vivaldo Bernardes)

- Uma sugestão -

Quando o meu coração sentiu o seu,
foi batendo, pulsando apressado.
Perguntei se você sentiu o meu,
respondeu-me de um modo acanhado


que “amizade nos faz só muito bem”.
Insisti e tornei a indagar:
-“O que quero vai muito e muito além,
e com isso Você vai concordar?”

A distância que hoje nos separa
não impede a nossa conjunção.
O desejo está dentro e não pára,
nem pensar eu não quero num seu “não”.

Aqui fica a minha sugestão
bem sincera, como é o meu viver.
Se você aceitar a opinião,
pense logo e venha me dizer.

Sou sozinho e só, você está.
Pense bem lá nos “contras” e nos “prós”
e a resposta já logo me dará.
O seu “sim” ficará só entre nós.

Se seu “pró” for mais alto que seu “contra”
e o seu “sim” for maior que o seu “não”,
será claro, Você logo me encontra
ajoelhado, pedindo a sua mão.

Entretanto, o destino é esquisito:
não se sabe o que vai acontecer
e eu nisto, com medo, já reflito:
um seu “não” para mim melhor morrer...

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O TEMPO
(Vivaldo Bernardes)

Sem saber o que és, eu já te sinto.
Não tens peso, mas pesas-me nos ombros;
não tens gosto, mas eu noto teu absinto,
nos meus dias de tristeza, horas de assombros.

Só me deste duas cores para a vida:
uma azul-mocidade outra escura.
A primeira, levaste de investida;
A segunda, já sabes quanto dura.

Tens nas mãos o destino do Universo.
És eterno, mas vives de segundos.
Discutir-te, o teu tema é controverso.

Debater-te é simples despautério.
Continua governando os nossos mundos
e fico eu cá absorto no mistério.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

TÉDIO
(Vivaldo Bernardes)

Tédio eu tenho da vida inteiramente,
do mesquinho desejo aos mais nobres
nada sinto, pois sou indiferente,
desde os grandes aos miseráveis pobres.

A minh’alma não vibra por mais nada,
tudo igual, a rotina é imutável,
sem sentido, se vê abandonada
e o futuro será hoje estagnável.


Não quisera que a vida fosse assim,
eu a via toda azul e de prazeres,
mas o Fado maltrata o meu fim.

Minha vida tornou-se mui sombria,
dela eu disse e não tenho mais dizeres.
Sou escravo sem carta de alforria.


Planaltina-DF, 05/09/2002

terça-feira, 2 de agosto de 2011

TEU RETRATO
(Vivaldo Bernardes)

Até quando olharás os olhos meus,
imóvel como estátua no retrato
que guardo pra lembrar os jeitos teus
que por eles por pouco não me mato?

Por pouco eu não morro de saudade
dos tempos de mocinha que tu eras,
do dia em que fizemos amizade
aos anos de felizes primaveras.


Depois partiste, foste para o chão
e eu fiquei como se fosse em alto-mar
sem bússola, nem mesmo um timão.

Navego esse destino muito ingrato,
no tempo em que Deus determinar,
beijando com saudade o teu retrato.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

PÁGINA VIRADA
(Vivaldo Bernardes)

Debato-me com meu terrível baixo-astral,
vivendo este inferno em que tu me lançaste
sorrindo-me assim de um jeito banal,
distante e alheia como a um mero traste.

Por isso, tudo ficou somente em saudade,
saudade que me rói, desgosto que me mata
sentindo o nosso fim depois dessa verdade
que nada já me diz senão que és ingrata.

Depois do que te dei, jamais pensando em preço,
deduzo que assim me vendeste o teu brio
e o teu fingido amor tem novo endereço.

Mataste o meu amor com a tua punhalada,
pois ele se acabou ficando o seu vazio,
passando como passa a página virada