PENSAMENTO DO DIA:
Quando nossas mãos se negarem a construir o concreto, usemos a nossa cabeça e construamos o abstrato.
Boa-noite!
sexta-feira, 30 de março de 2012
A VIDA
(Vivaldo Bernardes)
(Vivaldo Bernardes)
Não cheira nem fede;
é noite sem lua;
nublado é o sol;
a mim nada pede;
não vejo o arrebol;
só tu és presente;
se vou, vais também;
se volto já vens
na insânia da mente.
Se queres-me bem
afasta de mim
imagens sombrias,
figuras do além.
E quando eu me for,
alegre e contente,
verei o horror
da luta valente.
Planaltina-DF, 11/05/2004
quarta-feira, 28 de março de 2012
ROTINA
(Vivaldo Bernardes)
O galo cantou,
o dia chegou,
café já cheirou,
trabalho não há,
o ontem já foi,
não tem o amanhã,
só hoje é a vida,
sem planos nem lida.
No quarto a bengala
no punho manchada
cansada e curvada
espera o caminho
do quarto pra sala,
da sala pro quarto
do velho sozinho.
A noite chegou...
o galo dormiu...
o dia já veio...
o galo cantou...
..........................
..........................
do quarto pra sala,
da sala pro quarto,
no quar... to... dor... miu...
Planaltina-DF, 29/04/2004
segunda-feira, 26 de março de 2012
SÓ TU!
(Vivaldo Bernardes)
Se durmo, sonho contigo;
se acordo, logo me vens
à lembrança;
se saio, vais comigo;
se chego, chegas também;
se choro, choro por ti
e repito o que dizias.
São exemplos que herdei.
Só não rio mais... como ria.
Tua presença é constante,
não me sais da consciência,
não me deixas um instante!
O motivo
é a tua ausência...
Planaltina-DF, 12/05/2002
sexta-feira, 23 de março de 2012
TOLERÂNCIA
(Vivaldo Bernardes)
Cá do alto dos meus oitenta e um
eu contemplo o passado já distante
e reflito se a trabalho algum
não pudera entregar-me mais constante.
Passam os anos e o tempo se prolonga,
noite e dia, dia e noite no infinito.
Nada muda na vida que se alonga,
na rotina me canso e me agito.
Entretanto, no extremo eu já me acho,
ingerindo tamanha insipidez
que por pouco ao chão não me agacho.
Mas enquanto o Juiz não apitar,
terminando o Jogo de uma vez,
lutarei aprendendo a tolerar.
Planaltina-DF, 20/08/2004
quarta-feira, 21 de março de 2012
IMPOSSÍVEL
(Vivaldo Bernardes)
Impossível amar-te mais que amo;
Impossível querer-te mais que quero;
Impossível falar-te do que clamo;
Impossível dizer-te do que espero.
Já que tanto citei os “impossíveis”,
não me falta querer-te inteira minha.
Só me bastam olhares convencíveis
e me animo a tomar-te inteirinha.
Nossas vidas dão voltas de improviso;
o que era, passa hoje a não ser
e o imprevisível chega sem aviso.
Marinheiro que sou do Alto-Mar,
enfrentei tempestades sem temor
e aprendi esperar para remar.
Planaltina-DF, 15/08/2004
segunda-feira, 19 de março de 2012
CIÚME
(Vivaldo Bernardes)
Ciúme é serpente instilando peçonha
no amor inseguro que inspira cuidado,
tornando o amante desassossegado,
só vendo na mente figura visonha.
Porém, o ciúme se for bem dosado,
desperta no outro carinho e cautela,
que franco e amoroso evita querela,
sentindo que o amor não lhe fora roubado.
Na história do amor o ciúme é pimenta
que arde no peito, um ardor benfazejo,
e muito se amando o ardor mais aumenta.
No moço ou no velho não tem diferença,
bastando um descuido e vem de sobejo,
podendo causar o final da querença.
Planaltina-DF, 30/06/2004
sexta-feira, 16 de março de 2012
AMOR DE VELHO
(Vivaldo Bernardes)
O amor puro e casto que o velho alimenta
na idade terceira, no fim do caminho,
é fruto maduro, resplende carinho,
despido de arroubos que o jovem ostenta.
Sublime e tranquilo é amor verdadeiro,
não trama vingança tampouco a intriga,
o amor é constante e não teme fatiga,
é preso de afeto sem ser prisioneiro.
Provindo da alma, não é compelido,
mas livre e espontâneo, não tem hora certa
nem sente o ciúme que é repelido.
Assim vive o velho que o amor sempre oferta
nos últimos anos e já combalido,
de tudo se esquece e do amor não deserta.
Planaltina-DF, 26/06/2004
quarta-feira, 14 de março de 2012
AMOR
(Vivaldo Bernardes)
És simples e pura qual lírio do campo;
tua voz me emudece, teu jeito me encanta;
a cor dos teus olhos luzindo m´espanta,
espertos piscando como um pirilampo.
Cabelos puxados, atrás enlaçados,
menina te fazem dos tempos d´escola
e chegas sorrindo de brincos frajola,
de lindas sandálias nos pés enfeitados.
Sonhando contigo sozinho reflito
que a tua formosura me causa vertigem
e acordo do sonho assustado e aflito.
Ao ver como és tão formosa mulher
medito da Terra não teres origem
e sim vens do Sol, d´uma estrela qualquer.
Planaltina-DF, 20/06/2004
segunda-feira, 12 de março de 2012
AMAR
(Vivaldo Bernardes)
Amar é sonhar acordado no dia,
é nunca esquecer um minuto sequer
o ente querido em tempo qualquer,
é ter alegria em perene agonia.
Amar é doar-se completo e total,
sem ver o retorno do bem que se faz,
calando trombetas, silente e em paz,
deixando de lado da intriga o punhal.
Amar é deixar-se fugir enlevado
aos campos de flores de amenos odores,
às vezes d'espinhos agudos eivados.
Amar é sentir não sei quê de carinho,
ornado de amores, isento de dores,
vontade agradável d'estar bem juntinho.
Planaltina-DF,12/03/12
SOLEDADE
(Vivaldo Bernardes)
De outubro era a noite d'estrelas luzindo
e tu desta Terra de males sofrida
partiste sem dores, alegre, sorrindo,
ao certo por entes celestes querida.
A vida que tinhas aqui no Caminho
por vezes chorando, por vezes contente,
por mim foi gravada com muito carinho,
lembranças que ficam, retalhos da mente.
Depois que partiste não sei quem me possa,
com arte e cuidado tirar desta fossa,
em que me lançaste, de dor e saudade.
De ti me recordo minutos a fio,
lembrando os conchegos em noites de frio,
não tendo hoje a vida senão soledade.
Planaltina-DF,12/03/12
quarta-feira, 7 de março de 2012
ESTA E AS OUTRAS VIDAS NOSSAS
(Vivaldo Bernardes)
Precisa-se com urgência dum cardiologista
experiente em tratamento da memória
dum coração intransigente saudosista
que se nega a esquecer a infeliz história,
romance que o levou à beira da loucura
por uma Colombina mentirosa e fútil,
mulher doente de atraente formosura
que só vê no homem a farta moeda útil.
Diz o Doutor que a afeição cardiológica
nasceu de vidas seculares, dum passado
cujas faltas voltam com a certeza lógica,
quando afinal se paga o saldo atrasado.
Fica evidente que as dores do presente
são restos a pagar dum remoto passado.
LEMBRANÇA
(Vivaldo Bernardes)
Na noite serena de brisas amenas
cismava o cacique no seu amanhã
que planos os tinha seguros, dezenas,
se a sorte o ajudasse no seu duro afã.
No tronco amarrado,servindo de isca
enquanto das lanças o índio cuidava.
grunhia o suíno que a onça petisca
assim sinalando que o bicho chegava.
Mas eis que o felino, de garras atrozes,
subindo-lhe na choça vislumbra o selvagem
e mostra-lhe dentes agudos, ferozes.
Instante da morte quebrada é a lança
que o índio afiara com tanta coragem
ficando na oca somente a lembrança.
Planaltina- DF,07/03/12
segunda-feira, 5 de março de 2012
VAZIO
(Vivaldo Bernardes)
O vazio que deixaste em meu ser
não se calcula; é imensurável.
Meus olhos já não podem mais te ver,
e assim vejo a vida intolerável.
Os anos que passamos, deleitosos,
foram embora, não há como trazê-los.
Enquanto curto tempos espinhosos,
és etérea e não ouves meus apelos.
Mas como sou mortal aqui na Terra
e dela me livrar ao certo espero,
aguarda-me no espaço que te encerra.
E até qu' eu me desprenda do combate
continuo no viver duro e severo,
lamentando a ausência que me abate.
Planaltina-DF,05/03/12
PROCURA-SE
(Vivaldo Bernardes)
Procura-se a chave da felicidade,
a mesma que fugiu e nunca mais voltou
desde que me feriste a honra e a dignidade
com mentiras que meu amor não suportou.
Procura-se o que jamais será achado
enquanto ecoar neste meu coração
o nome da mulher que o quis machucado,
feridas que não se curam com o perdão.
Procura-se a chamada sinceridade
oculta nos ósculos dum amor eterno,
sementes de duvidosa fertilidade,
enquanto dura o fingido calor externo
Portanto a felicidade não existe
senão a quem a procurá-la, em vão, insiste.
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