quinta-feira, 29 de setembro de 2011

ESPERANÇA
(Vivaldo Bernardes)

O que sinto no peito aqui guardado,
é o último trunfo com que conto
com carinho e amor mui bem velado,
na esperança de ver-te me apronto.

Dos tormentos de estar longe de ti,
só me resta agora a esperança
de te ver como um dia já te vi:
como eras e plena de pujança.

Só Deus sabe o tempo que inda nos resta,
pra de novo abraçar-nos como outrora,
esperando com ânsia a grande festa.

E enquanto esse dia não chegar,
não soar o relógio a justa hora,
só nos fica o infindo esperar.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

MULHER-FLOR
(Vivaldo Bernardes)

Das flores que conheço és tu a mais formosa.
Não peco por dizer,não há outra igual
Tu supres sem favor a mais altiva rosa,
o odor que tu exalas excede o sensual.

Mulher,tu és a flor!Ó flor,tu és mulher.
Igualam-se em beleza,igualam-se em odor
e fazem ambas de mim o que lhes aprouver,
tirados os espinhos e escondendo a dor.

Entanto,entre as duas se eu escolher pudesse,
ao certo elegeria rainha dentre elas
a mulher carinhosa à hora que eu quisesse.

Carinho é dom de Deus e dado à mulher,   
e feito com primor pra não deixar sequelas
e a flor murcha num,dia como uma flor qualquer.

Planaltina-DF,21/09/2005



REFLEXÕES
(Vivaldo Bernardes)

Minha noite é infinda e não vejo o nascente;
as estrelas se foram e meu céu é escuro;
não distingo alvorada e confundo o poente,
o presente enfadonho e o futuro inseguro.

Vivo só por  viver: não aspiro a mais nada.
O ontem acabou, o porvir me assombra,
embora considere a vida inacabada,
pois resta-me de amor ainda leve sombra

Entanto inda cultivo amores extremados
e não terei jamais na vida outros iguais
a esses que já tive e foram sepultados.

Na idade que já tenho é justo que eu reflita 
no fim destes meus dias que acho são fatais 
a mim humano ser que esta Terra habita.

Planaltina-DF,10/09/2005
SE VIRES....
(Vivaldo Bernardes)

Se vires pela rua um corpo sem destino,
desfigurado e triste,olhando o duro chão,
sentado na calçada,a alma em desatino,
prevê possa ser eu a te implorar a mão.

Não reconhecerás a minha fraca voz.
No rosto só verás a pálida imagem
daquilo que já viste e fica entre nós,
retratos doutros dias,figuras de miragem.

Daqui não sairei,assim eu morrerei,
 a menos que tu venhas co'a tua própria mão,
tirar-me deste charco em que me atolei.

A Deus eu já pedi;me leve desta lama,
mas Ele não ouviu e ainda diz que não,
por mais tenha pedido,a morte não me chama.

Planaltina-DF,06/09/2005


terça-feira, 27 de setembro de 2011

RESTOS
(Vivaldo Bernardes)
Á Teresinha

De tudo o que sobrou após a tempestade,
dos restos que ficaram em sonhos destruídos,
restou a me matar meu verso de saudade
de tudo o que ficou dos velhos tempos idos.

Pudesses tu voltar ao menos por um dia...
e me levar contigo ao páramo celeste 
trazendo-me de volta a cumprir porfia,
feliz eu sanaria a dor que me impuseste.

Se ainda queres ver o corpo que me serve,
procura-o no chão e o encontrarás na rua,
desanimado e tonto e sem a antiga verve.

Saudade o transformou no que verás então
igual ao cão vadio,uivando para lua
o próprio desalento,a própria solidão...

Planaltina-DF,04/08/2005
 LAMENTOS
(Vivaldo Bernardes)

Eu lamento os meus tempos já passados,
quando ainda de amor não conhecia,
guiado por eunucos antiquados,
e de sexo pouco ou nada se sabia

Entretanto,aprendi co'a própria vida 
que o princípio do amor está em tudo
e penso que o amor não tem guarida
se o coração se faz de surdo-mudo.

Distanciam-se os tempos que vivi,
bajulado e por muitas desejado,
e o remorso futuro não previ.

Remorso por não ter retribuído
mil beijos com que fui agraciado,
e afagos que eu podia ter sentido.

Planaltina-DF,05/05/2005


LÁGRIMAS
(Vivaldo Bernardes)

Escrevo-te,chorando,estes meus versos,
as marcas no papel logo as verás.
São lágrimas que caem dos olhos tersos;
são manchas que tu nunca apagarás.

Os pingos que tu vês no meu escrito 
vêm da alma e os olhos me inundam
e caem quando eu os teus eu fito
e tremem quando os  olhos se aprofundam.

Justos são os soluços que me abrasam
ao pensar nas palavras que disseste,
impondo condições que te comprazam.

Penso eu que o amor jamais se vende,
e não há um amante que conteste
depois do fogo que nele se acende.

Planaltina-DF,05/08/2005


segunda-feira, 26 de setembro de 2011


INCERTEZA
(Vivaldo Bernardes)

Incerta e sem um norte que a oriente
caminha está minh'alma solitária,
habitando este corpo decadente
na reta já final da funerária

Meus versos bem definem a incerteza
e tingem de escuro  o meu porvir
guiados pela lei da natureza 
e inútil é querer deles fugir.

Entanto o desejo permanece
e mostro-lhe o meu corpo envelhecido,
mas ele,com vigor,não esmorece.

Acato ser o amor imorredouro
na luta entre a mente e o desejo,
e voto no segundo sem desdouro.

E hei de assim viver do infinito 
dando graças por ter este almejo
e de amor mil palavras ter escrito.

Planaltina- DF, 31/07/2005









FRUSTRAÇÃO II
(Vivaldo Bernardes)

Cansei-me de esperar-te neste bar,
á hora combinada e prometida,
e sumiste nas ondas deste mar
tenebroso que é a minha vida.

Escrevo estes versos que falávamos,
um por noite,não mais que um por noite,
usando a mesma mesa que usávamos,
servindo-me a cerveja como açoite

Parece que perdeste o endereço,
       e eu de te esperar quase enlouqueço,
          pensando que talvez tu me esqueceste.

              E eis que já ao fim meus versos chegam
                     e meus braços de mim não te aprochegam,
             desmentindo o amor que prometeste.

                 Planaltina - DF, 20/07/2005 



sexta-feira, 23 de setembro de 2011

UM MEU SONETO
(Vivaldo Bernardes)

Quando a vida queimar todo o pavio,
derretendo da vela o seu cerume,
estarei neste mundo por um fio,
e dirão: - “enterrá-lo é do costume.”

E depois de deitado no caixão,
quero ter, sobre mim, um meu soneto,
qu’eu vou ler em total escuridão
té meu corpo virar um esqueleto.

Meu pedido não é exorbitante,
é sincero e contém veracidade,
é anseio, é amor nobilitante.

Assim quero e espero seja feito:
ter comigo por toda a eternidade
meu soneto em sussurros no me peito.

Planaltina-DF, 20/07/2011


UM TEU SONETO
(Joésio Menezes)

- ao poeta Vivaldo Bernardes -

Sim, meu amigo!... é nosso costume
- após a vida queimar seu pavio
e a vela derreter seu cerume -
enterrar quem daqui se despediu.

Porém, velho amigo, eu prometo
que, antes de descerem teu caixão,
em teu peito deixarei o soneto
que desejas ler na escuridão...

Não acho que seja exorbitante
esse teu pedido que, doravante,
atenderei, pela nossa amizade.

E sobre teu peito hei de deixar
um teu soneto a te sussurrar:
-“Enfim sós, por toda a eternidade...!”

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

PROMESSA
(Vivaldo Bernardes)
Tenho falado tanto de ti nos meus versos,
tenho clamado tanto e tanto por ti,
que agora mudarei, pois que eu decidi
dar um tempo e escrever sobre assuntos diversos.

Cumprindo a promessa com extremo rigor,
não citarei, aqui, o teu nome completo,
mas apenas direi que tu és, sem favor,
aquela a quem eu culpo pelo meu afeto.

Assim, só por falar, e até sem querer,
não posso deixar de dizer que os teus lábios
me tornam louco com desejo de os morder...

Se, neste meu soneto, esqueci a promessa,
pergunta o porquê aos que se julgam sábios
e sintam uma aflição como eu sinto essa.

Eu, por mim, penso que isso já é um vício
antigo como são estes meus alfarrábios
que me ensinam a ver o céu no meu suplício.

Planaltina-DF, 23/01/2009

terça-feira, 20 de setembro de 2011

TUA BOCA
(Vivaldo Bernardes)
A boca que tu mostras nesse rosto
bem fala o que diz teu coração:
palavras, mas que têm o mesmo gosto
do amor que traz em si consolação.

Prossegue adiante, rindo como ris,
mostrando dentes alvos de marfim
e lábios que parecem flor-de-lis,
cheirosos com é o alecrim.

Porém, não ofereças o teu beijo
senão a quem não queira maculá-lo,
na ânsia incontida do desejo.

Surgindo quem mereça dos teus lábios
favores que não venham a manchá-los,
darás, mas com cuidados muitos sábios.

Planaltina-DF, 30/01/2006

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

APATIA
(Vivaldo Bernades)

A minha Palmeira muchou,secou,morreu.
O seu sabia não tem mais onde pousar!
Lá,o canto das aves se emudeceu.
Sem a Palmeira,onde irão eles cantar?

Quem sofre com isso é o coração
que já não houve mais o farfalhar das folhas
perdidas nos ventos quais bolhas de sabão,
vazias de amor,por mais que a eu escolha

Morta a Palmeira,com ela também morreu
o último sonho que eu tiva na vida,
última ilusão meu coração sofreu

pois que nele injetaste a atrofia,
a indiferença por esta vida sofrida,
lançada por ti na fossa da apatia 

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

MOMENTOS
(Vivaldo Bernardes)

Há momentos fugazes quanto é o vento:
Passam e, de repente, se diluem no ar.
Mas há os pertinazes de efeito lento,
tão saudosos são que nos fazem suspirar.

Destes últimos, um me agarrou a memória
de maneira tão insistente e inapagável
que já não sei o que faço dessa história
de um amor perdido no tempo irretrarável.

Pu-lo num dos pratos da balança e noutro
a minha consciência, e o seu ponteiro
indicou-me tolerância, pois virá outro
momento de amor puro e verdadeiro.

Porém, a profecia não me livra do inferno,
deste momento que pensei que fosse eterno,
mas meu sol se apagou...tudo se resumiu
nesta dor que só meu coração já sentiu.
SAUDADES
(Vivaldo Bernardes)

Se o teu coração sentisse
o que eu sinto por ti
e um beijo me pedisses
eu teria o que perdi.

Ainda guardo comigo
o retrato que me deste,
amarelado e antigo
como uma flor campestre.

Só Deus sabe o tamanho
dessta imensa saudade
dos nossos dias de antanho,
antes da fatalidade.

Tua ausência me esmaga!
O teu nome permanece
como o fogo que aquece
 e o tempo não apaga...

Perdi o teu endereço.
Se achas que o mereço
volta a mim e mo traz
se isto inda te apraz.




terça-feira, 13 de setembro de 2011



EMOÇÕES
(Vivaldo Bernardes)

            


            




Inconformado com a pequenez da Terra,
com as suas infantilidades e crendices
discursivas em que o nada se encerra,
com inúteis debates de fúteis mesmices,

                                    decidi-me alçar voo a outros mundos,
                                    quem sabe?...além do Sol, além das estrelas,
                                    onde os meus sonetos serão mais profundos
                                    e as emoções são comuns a quem vive a tê-las

 ante a emocionante evolução astral,
 iluminada pelo acender das flores
 do imenso jardim de luz fenomenal.

                                     Enquanto a Terra gira alheia aos turbilhões,
                                     crescem, a cada pôr-do-sol, as suas dores
                                     como se fossem suas grosseiras emoções.



POEMAS SINTÉTICOS - (Vivaldo Bernades)




  1.  Dedução:
            Duas camas.
            Não me amas.

     2.   Saudade

           Noite alta.
           Tua falta.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

PERDI MINHA VARINHA DE CONDÃO
(Vivaldo Bernardes)

Houve um tempo... ah, saudade eu sinto dos anos
em que volte à minha alegre primavera
quando ainda não conhecia os desenganos
que jamais pensei me machucassem à vera.

Anos dourados... quando o mundo era nosso,
quando éramos um do outro... Você e eu,
eu e Você a sós, beijando o que não posso
esquecer, que seus lábios, um dia, foram meus!

Houve um tempo em que tive um mundo sem igual:
tinha eu comigo a varinha de condão
que fazia nosso lar um castelo de cristal

refletindo nas paredes a cor do amor,
amor de cada dia, como era o nosso pão,
mais e mais aquecido e crescido d’ardor.

A quem já teve o seu mundo nas suas mãos,
como eu já fui senhor da sua afeição,
é cruel perder sua varinha de condão...

Planaltina-DF, 02/05/2009

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

RARAS ROSAS RAPINADAS
(Vivaldo Bernardes)

Roseiral de rosas roxas e rugosas,
raridades nos românticos rosais,
ricas rosas, rosas raras e ramosas,
rodeavam, sem rancor, outras, rivais.


Rosas rubras e rosadas rumorosas
reveladas no riacho, retratadas;
rosas outras mais rajadas e radiosas,
lá na rocha reluziam refratadas.

Repisadas por romeiros rapinantes,
raras rosas resistiram ao rigor
de romeiros com roncar de ruminantes.

A romper rochas só resta o ribeirão
que rodava os ramalhetes, sem rumor,
pois roubadas foram as rosas, de roldão.

Planaltina-DF, 29/04/2002

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O TEMPO E AS CICATRIZES
(Vivaldo Bernardes)

Por mais ensolarados sejam os nossos dias,
por mais escurecidos os nossos cabelos,
o Tempo tudo muda em noites tardias
quando os nossos amores viram pesadelos.

Isto me faz pensar nos fantasiosos sonhos
alimentados por maliciosas promessas
ao singular amor que pensei fosse inconho,
origem desta dor que não há quem a meça.

Minha esperança é que o Tempo cure
as feridas que na minh'alma tu deixaste,
conquanto eu duvide que eu inda dure

até que meu Tempo as feridas sare,
embora a cicatriz jamais se desgaste,
implorando ao Tempo que nunca nos separe!

Planaltina-DF, 02/09/2011

terça-feira, 6 de setembro de 2011

CARTA CONFIDENCIAL
(Vivaldo Bernardes)

Minha querida Planaltina, aquele abraço.


Será desnecessário perguntar como vai você porque hoje pela manhã percorri a Floriano Peixoto, virei uma esquina, aquela da XV de Novembro, e sabe onde eu fui? À Praça do Museu! Que beleza... estava assiiim de sabiás, sem contar os bem-te-vis que lá dos mais altos das seculares árvores denunciavam a minha presença. Olhei para cima e sabe o que vi? Um bando de tucanos apressados. Pelo jeito eles iam pra Vila Buritis!...
Por falar em Buritis, e aquelas palmeiras... heim!?
Agora eu conto uma coisa que acontece comigo. Não sei se você se lembra, mas há 87 anos eu uso as mesmas pernas e elas me proibiam de participar da Corrida de São Silvestre. Por isso, e por outros issos, acontece que quando paro e vejo o precipício do meio fio, ouço de imediato: “O senhor quer ajuda?”. Aceito e agradeço o braço amigo do(a) jovem. Seguro uma lágrima orgulhosa de você ser assim e, em passos de tartaruga, me arrasto até a Rodoviária, que fica ali pertinho da comprida Avenida Independência. Pasteis e um caldo de cana geladinho, só os da Rodoviária! Por que?... sei não... aqui é assim. Mas como eu não vivo só de comer pasteis, sou forçado a bater um papo com mil amigos no Bar do Dodô, e lá haja conversa: umas de velório, outras um pouco mais divertidas; algumas mentirinhas, etc. e tal, mas todas regadas de caipirinhas... santo remédio, principalmente se seguidas por “geladas loirinhas”.
Depois do sacrifício, penso pensando – por um tempinho – qual a marca do carro que me deixará no meu portão, desliga a ignição e só sai quando eu entro e me tranco no barraco.
Planaltina, você é demais pra mim! Você tem o gosto e o cheiro do que eu chamo Poesia.
Outro daquele abraço do seu namorado.

Vivaldo.

Daqui mesmo, em 19 de agosto de 2010.

domingo, 4 de setembro de 2011

RIO DE DEZEMBRO
(Vivaldo Bernardes)

- ao “meu” Rio de Janeiro -
Conheço-te de velhos e mui longos tempos...
e sei que tu não és apenas de janeiro,
pois eu já respirei teu ar e os teus ventos
e vi que és assim durante o ano inteiro.

Porém, és mais lindo ainda neste mês
quando em ti tudo muda em um milhão de luzes,
ousado desafio a quem, mais uma vez,
tenta dizer em versos o que lhe induzes

e se atreve a querer pôr num simples papel
os teus encantos impossíveis de caberem
nestes pobres versos escritos a tropel
que têm como seu fim o de enternecer

o coração do poeta, incondicionalmente
de janeiro a dezembro, dia a dia mais amigo
que te pergunta outra vez e platonicamente
ond’ele há de pôr esse amor mui antigo:

se o leva pra longe ou o deixa contigo
nesse rio de saudade, a mesma que o invade
com estranha dor-prazer ou dor-castigo
e tu, Rio, lhe respondes: - “Levarás metade

e deixarás aqui os restos de saudade”.
Contigo, o coração não quer ser egoísta
e levará com ele à distante cidade
o que lhe sobrou deste poema intimista...

Rio de Janeiro, dezembro/2009.

sábado, 3 de setembro de 2011

METÁFORAS
(Vivaldo Bernardes)

Hoje, a decrepitude já no fim,
contemplo dias passados e distantes
quando ainda não sabia fossem assim
os meus últimos anos torturantes.

Extenso mar de sonhos fez a vida.
Vasto jardim de rosas perfumadas
enfeitavam a estrada colorida
e pisávamos pétalas rosadas.

Mas a fatalidade não foi grata,
massacrando feroz o roseiral,
transformando o jardim em densa mata.

Deixaste-me perdido no caminho.
fugiste para o espaço sideral
e sozinho fiquei neste cadinho.